quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Dia 2


Além do véu
Havia anos que não entrava naquela casa, desde o maldito acidente, ainda se sentia mal e enjoado só de pensar naquilo, olhou acima para a fachada do velho sobrado, permaneceu na calçada, teve certeza de que não reuniria coragem o suficiente para entrar, olhou de novo, na janela do primeiro andar, no lugar fatídico viu o que não podia e acima de tudo não queria acreditar, o sobrado vazio havia tantos anos agora ficava para trás e da janela ele podia vê-la a observar o outro lado, quase como se não soubesse que estava morta. 
Veneno
Desceu para almoçar, como todos os dias, sua esposa esperava na mesa com a comida pronta e um sorriso na cara, não entendeu direito, até onde se lembrava, estavam brigados e ela aparentava um ódio mortal por ele, mas não a culpava por nada disso, afinal dormira com a secretária, disso tinha plena convicção, que ele pisou na bola e que se o casamento acabasse seria culpa sua, sentou na mesa, pegou um jornal jogado no canto, a notícia que viu era terrível, sua secretária havia morrido de maneira horrível, comeu um pedaço de bife, sentiu uma falta de ar, ficou tonto, olhou para sua esposa e ela gargalhava histericamente, morreu numa segunda-feira.
 Beira-mar
Não sabia o motivo daquela ligação tarde da noite e menos ainda o pq de ela querer encontrar com ele na praia, foi mesmo assim, chegou e não viu ninguém, andou um pouco pela orla, observou os movimentos das ondas, de vez em quando escutava um latido meio ao longe, olhava para o relógio mas ela não aparecia, resolveu que ligaria para saber o que aconteceu, tirou o celular do bolso, escutou algo movendo areia atrás dele, virou-se. Seu corpo foi achado por entre as pedras sem uma única gota de sangue na manhã seguinte, foi a ultima vez que a viu.
 Lar
Estava devastado, nunca tinha sido tão difícil fazer alguma coisa, até agora ainda não queria acreditar que a havia perdido, estava triste como nunca havia ficado, o amor de sua vida havia morrido. Chegou em casa, subiu para o quarto, já não pensava direito, adormeceu profundamente, abriu os olhos e na penumbra a viu, sonho maldito! Sentiu a seda fina sob os dedos, olhou para seu relógio que marcava 2 e meia da manhã, olhou de novo e não a viu, não estava sonhando, soube que ela apenas estava voltando pra casa.
 Fome
Noite fria, debaixo dos lençóis, filme bom na TV, pipoca, milk shake, a noite perfeita pra ela, as janelas fechadas do apartamento assoviavam furiosamente por causa do vento que batia com força, foi ao banheiro, voltou pela cozinha pra pegar mais alguns bombons, vidro quebrando na sala, correu pra ver, a droga do galho quebrou outra janela, pensou, virou-se para ir pegar uma vassoura e pá e limpar o vidro, sentiu as unhas rasgando suas tripas, viu o grande focinho arrancar-lhe os intestinos e então acabou-se.

Um comentário:

  1. Leitor resfolegante. É aquilo que crias com essas produções muito bem elaboradas e de finais só seus mesmo. A quebra de expectativa é uma especialidade sua que noto com prazer. O "Definhe" já me é clássico, que saibas disso.

    Continue com mais e não tenhas medo de arriscar-se em outros gêneros, ok?
    Eu

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